Chegou em minhas mãos o
mais recente livro do escritor Jorge Carrano, que pretende provocar o leitor
desvendando as lutas do seu “Anjo de Cem Asas”.
O autor busca uma nova fórmula para entender o amor e
ensaia provas de resistência à dor.
Antes de iniciar a minha ação de folhear as páginas desta
publicação, devo confessar! Nutrira em mim o pré-julgamento desta se tratar de uma continuação
do livro: “A Centaura e a Esfinge”. Eu estava equivocado!
Munido com uma poesia livre e, às vezes, ondeante, antes de
plainar nos trilhos até então obscuros à visão, ele experimenta conceituar
a identidade de Deus:
“Deus não é consequência, causa, efeito ou justificativa...
Deus, em verdade, eu vos diria, deve ser do tamanho do que eu não conheço.”
O Anjo de Cem Asas é um ser que procura, incessantemente,
conhecer os hábitos, sonhos, sentimentos e desejos humanos. Ele quer
transfigurar-se, sentir o prazer pelo qual não fora condicionado. Ele enxerga
com a visão em prisma, ele apaixona-se pela sutileza, força e beleza da mulher.
Toma o amor como sua égide mater...
“Todo um tempo de caminho é menor quando não se ama.”
Quando ferido, a dor passa a habitar o seu corpo e também a governar
as suas asas. Logo, o seu voo sangra...! Pergunto-me: de que foram feitas as balas que o feriram?
Forçado a cantar odes para um possível trágico fim, tais balas tinham o amor
comprimido, quisera o poeta balas de festim.
O anjo condensa em seu ser quase abatido, uma necessidade de
comunicação com a mulher que mais alcançara o íntimo. Mas quem é ela? Será,
talvez, Maria Carrano - a estrela ascendente da sua inspiração? Ou será, talvez, uma
musa enigmática de difícil interpretação para nós leitores...?
O ser alado nos faz coautores desta obra, interfere no universo
a nossa volta. Provoca-nos a construir analogias com as nossas memórias. Considera, contudo, as suas asas limitadas para percorrer o trajeto
planejado por seus instintos de busca.
“Uma busca constante do autor por sua própria altura.”
Voar... Voar... Não como
um simples anjo, mas como o deus dos ares. Por vezes, o autor se vê tal
qual o corvo de Poe. Influenciado por sua força. Caracteriza-o como “Senhor da
razão!”. Rasgando a alma; a carne e apresentando os versos extraídos de suas
vísceras.
A poesia de Carrano é
densa, bem arquitetada, harmônica e invasiva. Ela chora, vocifera, sopra a
produzir os ventos que movem o seu Anjo de Cem Asas. Caros amantes da poesia, permitam-vos, serem invadidos pelo universo particular do
escritor e poeta Jorge Carrano.
Carlos
Conrado
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